sábado, 23 de fevereiro de 2008

Corinthians, rivais e considerações *

Apresento a seguir um texto muito interessante do ponto de vista desportivo e mercadológico.

O autor é Durval Arantes, conhecido membro da comunidade Corinthians no Orkut.

Corinthians, rivais e considerações
* Por Durval Arantes


Uma tendência fácil de se verificar em algumas comunas versando sobre futebol é a articulação imediata e espontânea de São Paulinos, Palmeirenses e Santistas se houver um interesse em desdizer tudo o que versar sobre o Corinthians. Ou até mesmo uma discussão entre Santistas e São Paulinos, estes e Palmeirenses, que podem estar em uma calorosa argumentação com um torcedor do Peixe: em algum momento o Corinthians ou a sua torcida serão mencionados. Tudo indica que o Timão é como a eminência parda, uma presença tácita e subjetiva nas discussões das outras 3 torcidas.

O pano de fundo deste persistente padrão no comportamento das torcidas tem a ver, e muito, com a prórpria história dos 4 maiores clubes que dividem a atenção de 80 a 95% dos torcedores de futebol do Estado:

a) O SCCP (pelo seu perfil provinciano) é um clube identificador das massas,
b) O SPFC é o que mais se esforça em associar a sua imagem à um extrato específico da pirâmide social, embora a leitura que se tenha dentro e fora dos estádios seja outra,
c) a SEP é um clube de colônia com agregados "estranhos" às tradições do velho Palestra Itália e
d) o SFC uma agremiação com fortes tradições vinculadas à Cidade portuária, cujo alavancamento do prestígio internacional deve-se em boa parte aos memoráveis feitos de Pelé em idos dos anos 60 e 70, e mais recentemente (e em menor escala) Robinho e cia.

SFC, SEP e SPFC têm em comum a conquista de grandes e incontestáveis títulos internacionais, notadamente a Libertadores e o Torneio Internacional Toyota Inter-Clubes (depois rebatizado "Toyota FIFA", e em seguida convertido em Mundial FIFA), sendo que a SEP logrou êxito em tornar-se vice-campeão da versão antiga, em 1999.

Para o SCCP a Libertadores ainda representa, para alimentar ainda mais o rol de provocações das outras 3 torcidas, o Nirvana a ser atingido. Em contrapartida, a Nação Corinthiana gaba-se, com méritos (e para o escárnio explícito e/ou ódio embutido dos rivais), com a conquista do Torneio Mundial FIFA/2000, realizado no Brasil naquele ano nas Cidades de SP e Rio, com a participação de clubes inexpressivos do México e Oriente Médio, mas com a forte participação do Manchester/UK, Real Madrid e Vasco da Gama com os seus times titulares. Como era de se esperar, a conquista deste título elevou as discussões das 4 torcidas a níveis jamais verificados e curiosamente este torneio definiu de vez os territórios entre os torcedores: De um lado o Corinthians com os títulos regionais e o Mundial FIFA/2000, do outro lado os outros 3 clubes com Libertadores e Inter-Clubes Toyota. Se o equilíbrio e o bom senso já era precário entre as 4 torcidas, 2000 foi um marco no recrudescimento e interiorização das paixões clubísticas. Nunca mais a discussão sobre títulos entre os 4 seriam as mesmas... O SPFC viria a vencer este torneio posteriormente e curiosamente não só passou a "aceitar" o título Corinthiano como adotar a sua conquista em suas mensagens de marketing do seu depto. de futebol.

Outra constatação é no mínimo curiosa: A torcida do SPFC cresce em progressão aritmética, ou seja, o seu crescimento está intimamente relacionada à conquistas de títulos. Se acumular êxitos, agrega novos torcedores, se não ganhar nada, estagna, sem descrescer. Como o clube é de tradição vencedora certamente continuará crescendo. Mas só poderá atingir a casa dos acima dos 20 milhões, ainda que mantenha o patamar de conquistas atual, daqui a uns 28 anos. Curiosidade: Dificilmente um "carioca de raíz" (território do segundo maior pólo futebolístico e terreno do clube com mais torcedores nacionais) adotará um clube com nome de "São Paulo" para torcer. É o preço que se paga pelo regionalismo cultural entre paulistas e cariocas.

A torcida da SEP dá indicativos de que nem cresce, nem diminui, em relação aos valores absolutos da população. O Palmeiras é também um time com forte tradição vencedora, provavelmente o time mais afeiçoado a chegar entre os melhores em todo o Brasil ao longo da história do futebol no país; entretanto a sua íntima associação com a colônia italiana, provavelmente, seja um complicador em (por exemplo) criar algum nível de indentificação fácil e espontâneo no Norte-Nordeste do Brasil, embora certamente existam alguns admiradores do Verdão naquela região do país.

A diferença numérica entre torcedores São Paulinos e Palmeirenses claramente diminui ano a ano. Ouso apostar que a do "Palestra" é ainda ligeiramente maior do que a do Tricolor...

A torcida do Santos encontra-se numa clara situação de desvantagem. Até, acreditem, topográfica! Como situa-se no litoral, não tem "pra onde" crescer e se tentar "subir a serra", já vai degladiar com a paixão das outras 3 Nações, as quais estão estabelecidas há mais tempo, notadamente na Capital. E a influência do fascínio do Santos e pelo Santos é inversamente proporcional à distância: Quanto mais longe do litoral, menos Santistas iremos encontrar em direção à capital. E depois, saindo do Estado, teremos a "Geração Pelé" (avançando na idade, cujos filhos muito provavelmente ´migraram´ pras outras 3 torcidas ou para times dos Estados locais) ou a "Geração Robinho/Diego" que se só se renovará se o clube ou manter-se em (boa) evidência ou, é claro, ganhar títulos. A trajetória dos Santistas demonstra ser a mais árdua, do ponto de vista geo-corporativo (se esta tendência de clube empresa persistir ao longo dos anos).

Por ter o perfil mais popular dos 4 grandes clubes de SP, a torcida do SCCP cresce em progressão geográfica e independe da conquista de títulos. Já o era assim, mesmo no período de escassez de títulos e revigorou-se após 1977. O Corinthiano é mais torcedor do que os outros? Em tese, não, mas a vantagem numérica permite e facilita a repetidão de padrões matemáticos muito simples, do tipo: "Quanto mais pais Corinthianos existirem, mais filhos serão educados a serem Corinthianos ou tenderão a gostar do Corinthians, como um reflexo da consanguinidade Pai-Filho". Não é uma regra inviolável (seja pra qual clube for), mas a Lei dos Grandes Numeros, a qual apregoa que a média duma amostra converge (em probabilidade) para a média da população à medida que o tamanho da amostra aumenta (indefinidamente), neste caso favorece o Corinthians. O crescimento da torcida Corinthiana é linear e ascendente, mesmo com as deficiências peculiares e únicas ao clube!

Os estereótipos que se tornaram clássicos na retórica dos rivais dos Corinthianos em suas tratativas de subdimensionar o dia-a-dia do clube de Parque São Jorge (sem prestígio internacional, sem passaporte, sem estádio, etc) tornam-se, paradoxalmente, argumentos inconsistentes com o crescente aumento do número de admiradores do time ao passar do tempo e por todo o território nacional, e à liderança mercadológica da marca "Corinthians", quando o assunto é futebol. Como explicar um clube volátil e explosivo como o Corinthians ter mais exposição em mídia do que clubes notadamente mais organizados e melhor administrados, e teoricamente com "maior" reconhecimento internacional?

Curioso este Corinthians. Sorte daqueles que o tem como uma paixão a ser cultivada.

2 comentários:

Anónimo disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
mihail disse...

belo texto!